Palhacetas

Do dia 03 à 09 de Dezembro de 2012 eu, Lis Nasser e a Parça Mariana Schizarro partimos para o Rio de Janeiro com malas, cadeirinha cenográfica, barriga de grávida e muita expectativa, para participar do Anjo do Picadeiro 11 – Encontro Inter…nacional de Palhaços. Que por definição do próprio site – www.anjosdopicadeiro.com.br é:
“Anjos do Picadeiro – o maior encontro internacional de palhaços produzido desde 1996 pelo Grupo Carioca Teatro de Anônimo, em iniciativa independente para comemorar seus dez anos de atividade. O encontro nasceu da necessidade de aprofundar a investigação sobre a arte de fazer rir, em especial a arte do palhaço, e de criar uma rede de intercâmbio e troca entre os sujeitos protagonistas do fazer circense, independente de escola ou tradição, transformando-se, ao longo dos anos, em um espaço de intercâmbio, reciclagem e qualificação profissional.
O Anjos do Picadeiro hoje em dia simboliza uma grande rede de intercambio, ultrapassando os dias do encontro. Gera desdobramentos no decorrer do ano, encontros entre mestres e jovens artistas, parcerias, oportunidadesde trabalho; fóruns de discussões; publicações e por aí em diante. É um espaço democrático para a troca de idéias e construção coletiva, informações, reflexões e confrontações, além
de representar também um lugarde formação e qualificação profissional.”
“Falar em rede é falar das inúmeras parcerias construídas ao longo dos anos de existência do encontro.”
João Carlos Artigos
Lá encontramos um pouco de tudo, vários tipos de palhaços, internacionais, encantadores, virtuoses, arrogantes, humildes, iniciantes, experientes ou várias dessas qualidades juntas.
Eu pessoalmente, já havia participado do encontro então vivi também alguns reencontros felizes com pessoas queridas.
Também nos encontramos com a Lapa carioca e sua noite fervente, sua poesia na cultura brasileira, em sua variedade de formas e seu lado grotesco, seu fedor, suas figuras em situação de rua e dependência química. O perigo de não poder andar sozinho, o calor do rio, a correria do evento.
Mas acredito que o que mais nos marca são os encontros com pessoas maravilhosas, palhaços ou não que se tornaram amigas naquele momento e quem sabe na vida.
Apresentamos um número das Palhaçetas, que ainda é um bebê, no Palco Aberto. Foi uma experência muito boa, primeiramente pelo prazer de brincar, e pela oportunidade de receber um retorno de pessoas que entendem da arte.

O número, ainda sem nome, é parte de nossa pesquisa que pretende abordar questões do universo feminino através de um viés pessoal e da arte da palhaçaria. Nesse número a Palhaça Sambina e a palhaça Pafúncia entram em uma missão transloucada com o objetivo de tornar Pafúncia em um exemplo de Beleza feminina padrão, tendo como exemplo as mulheres das revistas de beleza feminina. Obviamente que a missão fracassa e as duas acabam por se render aos prazeres da carne, ou melhor do açúcar!
A Beleza feminina é uma questão para nós. Sentimos que socialmente esses conceitos estão muito entrelaçados e que mesmo que de forma inconsciente, na maioria das vezes é, acabamos nos afetando com a forma com que somos vistas. As pessoas em geral querem ser bonitas, atraentes, seja dentro de seu próprio padrão, ou seja, dentro de um padrão criado pela indústria. O que acontece é que muitas vezes esses padrões se misturam e já não sabemos mais o que é o que. Além disso, sinto que mesmo optando por fazer o que eu quero e ficar bem comigo mesma isso implica em quebrar um padrão e lidar com o choque ou as críticas que sociedade reproduz de forma alienada.
Enfim, essas e outras questões do universo feminino foram levantadas durante nosso primeiro ano de pesquisa juntas, que contou com leituras, entrevistas , ensaios e exaustivos debates entre duas mulheres de personalidade forte.
Nunca participamos de um encontro de mulheres palhaças. Ninguém nos falou nada exatamente sobre o tema de nosso número, houveram generosos comentários sobre técnica, idéias de cena, e um anjo querido chamado Leo Abelha que até se propôs a criar uma trilha, além de nos salvar de diversos percalsos. Mas nos seminários sentimos uma certa falta de vontade das palhaças e palhaços presentes em discutir a questão do feminino e da recente figura PALHAÇA.
Chegamos até a nos questionar se nosso caminho nesse sentido era pertinente. E após um pouco de reflexão chegamos a conclusão de que sim, é pertinente, na medida em que nos incomoda e pelo que tenho sentido , discutir o feminino, seja ele na mulher ou no homem ainda incomoda e muito. Acho que é um sinal de que a reflexão ainda tem muito pano para manga.
Mas acredito que o maior encontro desse Anjos do Picadeiro 11 foi o encontro entre duas mulheres,atrizes,palhaças e amigas, convivendo intensamente, se equlibrando, se tolerando, trocando e aprofundando uma parceria de muito trabalho, diversão, reflexão e aprendizado.
Aproveito o ensejo para agradecer e parabenizar todos do teatro de Anônimo pela realização! Em especial há João Carlos Artigos, que me iniciou na arte da palhaçaria me fazendo chorar e pedir pra cagar! À Julia Guimarães pelas lindas fotos e generosidade em cedê-las! Aos amigos queridos que foram Anjos com agente, da Escola Nacional de Circo, do Crescer e Viver e de vários lugares do Brasil! Há Leo Abelha e Jeferson Cunha pelo cuidado e atenção!

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